2 Jun 2008

Desigualdades no rendimento (I)

A propósito da divulgação de um indicador para a desigualdade que colocou Portugal no último lugar no ranking europeu demonstrarei nos próximos posts que, tendo em conta apenas dois pressupostos muito simples (e com bastante aderência à realidade, julgo eu) as desigualdades no rendimento dos indivíduos, não havendo papel do Estado na sua redistribuição, têm tendência a agravar-se.

Avanço já os pressupostos, e peço-vos que assim vão participando comigo nesta reflexão:

Pressuposto nº1: Uma vez atingido um limiar de bem-estar mínimo que permita ao indivíduo viver com recurso a todas as suas competências físicas e intelectuais, a sua felicidade (no sentido de realização pessoal) não é dada pelo nível de bem-estar de que o indivíduo dispõe, mas antes pelo aumento desse mesmo nível de bem-estar.

Pressuposto nº2: A curva da utilidade marginal é decrescente. Ou seja, sucessivas e adicionais unidades de consumo acrescentam cada vez menos bem-estar.

Versarei (e também porei em causa) um corolário, bastante óbvio, aliás, que resulta destes dois pressupostos conjugados e que atribui maiores possibilidades de realização pessoal aos indivíduos com menor rendimento.

Peço que notem que não pretendo fazer (por agora) nenhum julgamento crítico sobre a (suposta) injustiça nas desigualdades no rendimento, ou sequer sobre qual deve ser o papel do Estado nesta questão. Isso fica para depois.


3 comments:

João Trocado said...

Não vou discutir o primeiro pressuposto, que tem lógica.

Contudo podes estar a ser redutor em relação aos factores de realização pessoal, que não se reduzem ao consumo.

Quase todos os demais factores, a começar pela profissão, passando pela realização social e/ou familiar, disponibilidade de tempos livres, etc etc estão também relacionados positivamente com o nível de rendimento.

Não quero dizer que o argumento é inválido, porque os tempos livres e a realização social também podem ser considerados "consumos", mas esta multiplicidade de vectores pode acabar por de uma certa forma invalidar a lei das utilidades marginais decrescentes até ao ponto de inflexão na curva de utilidade, que poderá corresponder a um nível de rendimento elevado.

Portanto, a verdade do corolário depende do limiar a partir do qual se verifica o 1.º pressuposto (e logo também o 2.º)

Trocado

Tité said...

Sem querer fugir ao tema do tópico, em jeito de desabafo, confesso que vim visitar-te com uma certa ansiedade, na esperança de ver aqui abordados os 2 últimos assuntos nacionais que “mexeram realmente com os meus nervos”.
Duas fraudes com grande projecção: o bloqueio dos nossos camionistas e a nossa selecção nacional de futebol!
Estava aqui a menina, não famosa mas cumpridora contribuinte, a gozar uns merecidos dias de férias, na paz da nossa ainda sossegada costa Alentejana e deparo-me com uma situação absolutamente surreal… Constou-se na Vila que o abastecimento de combustível estava racionado e em vias de acabar! Se esta notícia já era altamente preocupante para qualquer cidadão, quanto mais para alguém no auge das suas férias e a 500 Km de casa.
Mas nem tudo estava perdido. Em compensação, a epidemia futebolística propagada além fronteiras por este nosso povo tão ávido de alegrias, encontrava-se ao rubro também na costa Alentejana! A selecção nacional tinha ganho o segundo jogo consecutivo, numa competição que não era a feijões… “que mais podemos pedir?” pensaram os portugueses. E, com excepção dos senhores motoristas que estavam a fiscalizar, com uma incrível aparente legitimidade, a liberdade dos colegas de profissão de “não bloquear”, os restantes Tugas, sempre empenhados em matéria de festejos, saíram à rua de cachecol ao pescoço, mão na buzina e bandeirinha na janela do carro!
Faz sentido… amanhã não teremos gasolina para ir trabalhar, porque hoje gastamos a que nos restava a festejar uma vitória de um jogo de futebol! Lindo!
Valeu-nos a experiencia do Sr. Ministro em sessões de aconselhamento conjugal para admitir que numa relação tem que haver cedências e que, em caso de dúvidas, cede a parte + fraca. Temos também que agradecer a esse génio da bola (literalmente) que em muito contribuiu para pôr de novo o País nos eixos, tratando de acabar rapidamente com as farras da malta à custa do desporto rei. Desconfio que o Sr. ex-seleccionador estava em conluio com o Sr. Ministro, dado a semelhança do nível de desempenho de ambos!
Haja paciência! Haja alegria!

lbm said...

Caro Trocado, bem vindo sejas ao espaço de comentador. Fica certo que não ficarás sem resposta, apesar de não ser frequente nas nossas discussões, vejo neste teu comentário que temos pontos de encontro. Evançarei com o tema, peço paciência!

Um abraço!