Tal como houve um primeiro momento em que alguém esfregou dois paus para fazer uma faísca, houve uma primeira vez em que se sentiu alegria, e uma primeira vez para a tristeza. Durante algum tempo, estavam constantemente a ser inventados novos sentimentos. O desejo nasceu cedo, bem como o arrependimento. Quando a teimosia foi sentida pela primeira vez, despoletou uma reacção em cadeia, criando o sentimento do ressentimento, por um lado, e a alienação e a solidão, por outro. Poderá ter sido um certo movimento de ancas a criar o êxtase; um raio de trovão a criar o primeiro sentimento de assombro. [...] Contrariamente à lógica, o sentimento da surpresa não nasceu imediatamente. Só chegou depois de as pessoas terem tido tempo suficiente para se habituarem ás coisas que elas eram. E quando esse tempo passou, e alguém experimentou o primeiro sentimento de surpresa, houve mais alguém, algures noutro sítio, a sentir o primeiro assomo de nostalgia.
Também é verdade que por vezes as pessoas sentiam coisas para as quais não havia palavras, e que por isso passavam em claro. Talvez a emoção mais antiga no mundo seja a comoção; mas descrevê-la - só nomeá-la - deve ter sido como tentar apanhar qualquer coisa invisível. [...]
Tendo começado a sentir coisas, o desejo das pessoas de sentir foi crescendo. Queriam sentir mais, sentir mais profundamente, por muito que às vezes doesse. As pessoas tornaram-se viciadas em sentimentos. Esforçavam-se por descobrir novas emoções. É possível que tenha sido assim que nasceu a arte. Forjaram-se novas formas de alegria, bem como novas formas de tristeza: a eterna desilusão da vida como ela é; o alívio de um adiamento inesperado; o medo de morrer.
Mesmo hoje, ainda não existem todos os sentimentos possíveis. Há ainda aqueles que estão para além da nossa capacidade e imaginação. De tempos a tempos, quando uma peça de música que jamais foi escrita, ou um quadro que jamais foi pintado, ou qualquer outra coisa impossível de prever, ou sequer descrever, tem lugar, surge um novo sentimento no mundo. E depois, pela milionésima vez na história dos sentimentos, o coração dispara e absorve o impacto.
Em "A História do Amor" de Nicole Krauss
4 comments:
Voltei! Não sei se o mundo deu pela minha falta, mas eu já tinha saudades do mundo!
Sim, porque a saudade é sempre um sentimento com grande história :)
E por falar em história e em sentimentos... sanad a erl sioasc ouitm tsesnieratnes!!! Hihihi
:) fantastico o texto! ;)
muito apropriado a tao controverso periodo q vivo!
sentimentos ... uma revoluçao deles
xi!
Tité, também eu voltei, o Rica Ziga! já sentia a falta! Quanto a esse palavreado estrangeiro: "Ich verstehe nich!"
Rita, minha cara, é bom sinal, é sinal que estás "alive and kicking". Recorda: "Pela milionésima vez na história dos sentimentos, o coração dispara e absorve o impacto"
Beijos
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